O sangrento golpe militar do Chile, em 1973, deixou um saldo de mais de 15 mil mortos, 30 mil prisões e centenas de torturados. Entre as vítimas da barbárie pinochetista, estava Victor Jara, jovem compositor de música popular, líder da Nueva Canción, movimento que pertence à estética da música de protesto.Preso e levado ao estádio de futebol de Santiago, que foi utilizado naqueles dias negros como campo de concentração, Jarra, que não obedeceu a ordem militar de parar de tocar seu violão, teve suas mãos decepadas. Jarra misturou gritos de dor com alguns versos de protesto de sua autoria. Foi o bastante para que um insano militar calasse Jarra com um tiro em sua cabeça, ceifando a jovem vida de um grande talento. O primeiro número desta revista é dedicado a Victor Jarra, esse símbolo da resistência. Essa homenagem se estende a todos os artistas que emprestam ou emprestaram seu talento à luta social, à causa dos trabalhadores e, por esse motivo, foram oprimidos, torturados ou assassinados.
CANTO PARA AS MÃOS PARTIDAS DE VICTOR JARA
Por, Pedro Tierra
Quisera chorar teus dedos dilacerados: raízes do meu canto subterrâneo.
Quisera chamar-te “Hermano” como a infância dos rios lava o rosto da terra, mas minha boca sangrava um silêncio de canções amordaçadas.
De tuas mãos se dirá um dia: geravam pássaros de sangue como as primaveras da lua.
Tuas mãos, tristes descendentes das canções araucanas, tuas mãos mortas, casa de canções decepadas, tuas mãos rotas, últimas filhas do vento, guitarras enterradas sem canto, sementes de fuzis, seara de sangue.Quisera entregar minhas mãos inúteis ao cepo de teus carrascos.
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