Reflexões

"Instruí-vos, porque precisamos da vossa inteligência. Agitai-vos, porque precisamos do vosso entusiasmo.

Organizai-vos, porque carecemos de toda a vossa força".
(Palavra de ordem da revista L'Ordine Nuovo, que teve Gramsci entre seus fundadores)

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novembro 15, 2008

Uma carta de agradecimento do Darfur


Nyala, South Darfur, 20 de Abril de 2008

Saudações a todos amigos e colaboradores:

A escola básica, construída com ajudas dos colaboradores da Campanha porDarfur, das Revistas Além Mar e Audácia e dos grupos de jovens Combonianos, está agora a funcionar com 294 alunos – cristãos, muçulmanos e animistas, do 1º ao 5º ano. Os quatro professores foram escolhidos com base no seu empenho de serviço voluntário e suas qualificações de estudos da escola secundária. São eles os responsáveis pelo projecto escolar, que engloba não só o ensino mas também a refeição (sandes) e limpeza diária. A modo de voluntários, não recebem salário oficial mas sim um incentivo. São eles Santino Wol, Leila Younis, Michael Ayat, William Dhel (casado e 2 filhos), com idades compreendidas entre os 25 e 35 anos.

A população de Bileil expressa a sua profunda gratidão por ter, finalmente, uma escola a funcionar "não só por fora mas também por dentro" – como me dizia o Khamis, aluno do 4º ano que, deixou o seu agradecimento de uma forma que me impressionou. "Muitos de nós temos experiência da escola debaixo de uma árvore e a escrever com o dedo na areia, mas desta vez vai ser diferente, graças à Igreja e aos missionários, – disse.

Penso que ninguém discordará da atitude do Khmais. De facto, uma escola com bancos, livros, quadro preto, lápis, etc, oferece mais possibilidades, em todos os sentidos. Estas três centenas de alunos sabem que esta nova possibilidade lhes vem, graças ao apoio solidário da "Campanha porDarfur" e dos grupos de jovens e leitores das revistas combonianas Audácia e Além Mar.

O pai do Juma, aluno do 1º ano, veio trazer o seu agradecimento: "ainda bem que a gente da tua terra é rica para nos poder ajudar". Do modo como me olhou, sei que não ficou convencido quando eu lhe tentei explicar que as pessoas que os estão a ajudar, não são tão ricas de dinheiro quanto de coração. No entanto, os pais desses mesmos alunos também dão mostras de que, não sendo ricos de dinheiro são ricos de coração. De facto, eles contribuem com o que lhes está a ser pedido, compromentendo-se a pagar quase um quarto do pão da sandes diária que os seus filhos comem na escola. Nós chamamos-lhe um contributo simbólico; no entanto, para eles é realidade. E para muitos deles – diga-se de passagem – será a única refeição do dia.

Até à poucos anos povoado por darfurianos de tribos misturadas, Bileil era uma aldeia de 1.700 habitantes.

Actualmente Bileil confina com Kalma, actualmente um dos maiores campos de desalojados no mundo, com dezenas de milhares de refugiados do Darfur.

Há Janjaweed por todo o lado e a segurança é nula. A maioria das pessoas já não estar interessada em continuar a fugir para o Sul. Não há garantias de nada. "Se não podemos continuar – diz o Majok, resignado – tentaremos resolver vida aqui em Bileil, mesmo com a morte constantemente à nossa frente". »

Feliz da Costa Martins, Missionário Comboniano

Nyala, South Darfur

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