Postado em 20 dez 2014
Desde que vi a cena em que Bolsonaro agride pela primeira vez a deputada Maria do Rosário, há dez anos, fiquei pensando numa coisa.
Que pena que, em vez de Maria do Rosário, Bolsonaro não encontrou pela frente Luciana Genro.
Ali o Brasil poderia ter se livrado de Bolsonaro.
Recapitulemos o episódio.
Bolsonaro e Maria do Rosário discutem na Câmara dos Deputados. Bolsonaro torce, aos berros, uma fala de Maria do Rosário.
“Você está me chamando de estuprador?”
Não, ela não estava. Bolsonaro estava manipulando o que ela dissera para poder responder com a costumeira violência que reserva, até onde se sabe, aos mais fracos fisicamente.
Acuada e surpresa, ela diz que sim, mas ela estava claramente dizendo não que ele fosse estuprador, mas que promovia violência.
Ele diz então a frase que repetiria agora, aquela segundo a qual não estuprava Maria do Rosário porque ela não merecia.
Desesperada, humilhada, e sem que ninguém ao redor a defendesse, ela faz um movimento e Bolsonaro supostamente interpreta que um tapa podia estar a caminho.
Este é o momento chave, em que eu daria tudo para que a mulher da história fosse Luciana Genro e não a frágil Maria do Rosário.
O valentão diz que se ela desse um tapa levaria outro.
Nesta mesma situação, coloque Luciana Genro. Todos lembramos de uma das melhores passagens da campanha eleitoral, quando Luciana Genro mandou Aécio ao vivo, diante de milhões de pessoas, retirar imediatamente o dedo que apontara para ela.
Aécio obedeceu na hora.
Provavelmente, caso fosse Luciana Genro e não Maria do Rosário, Bolsonaro não terminasse sua ameaça de revide e já estaria com a face vermelha pela bofetada de Luciana Genro.
O que ele faria depois? Bateria nela? Se sim, sua carreira se encerraria ali. Se não, sua pseudovalentia ficaria desmascarada, e ele acabaria ali da mesma maneira.
Existe, é verdade, uma outra hipótese. É a seguinte: valentões como Bolsonaro escolhem bem suas presas. Dentro dessa hipótese, ele jamais se atreveria a mexer com Luciana Genro.
Isso quer dizer que a cena imaginária não se realizaria jamais, porque Bolsonaro guardaria sempre uma distância prudente, e sob muitos aspectos covarde, de Luciana Genro.
Mas que nos seja permitido sonhar com um duelo entre Bolsonaro e Luciana Genro.
Tivemos a sorte de ver a que foi reduzida a petulância de Aécio quando, com seu machismo tonitruante, achou que poderia ir para cima de Luciana Genro.
Não tivemos a sorte de ver Bolsonaro testando sua “coragem” com Luciana Genro.
Mas pelo menos podemos construir a cena em nossa mente, incluído o som da bofetada justa e instantânea.
E é uma imagem simplesmente deliciosa, para a qual cabe a grande frase do poeta: aquilo que poderia ter sido e que não foi.
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