Reflexões

"Instruí-vos, porque precisamos da vossa inteligência. Agitai-vos, porque precisamos do vosso entusiasmo.

Organizai-vos, porque carecemos de toda a vossa força".
(Palavra de ordem da revista L'Ordine Nuovo, que teve Gramsci entre seus fundadores)

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janeiro 22, 2008

As fábricas da ideologia

Dentre as instituições que influenciam e moldam as "reformas" efectuadas através do mundo todo, o Banco Mundial contribuiu para forjar um dogma aplicado universalmente. Ele acaba de ser posto seriamente contestado num relatório de avaliação elaborado por um grupo de economistas reconhecidos [1] . Após umas pinceladas, os avaliadores passam aos assuntos sérios: "uma grande parte da investigação é medíocre" ou "tecnicamente deficiente" e o Banco errou ao fundamentar suas tomadas de posições sobre tais "não-demonstrações". Muitos investigadores do Banco "parecem pensar que ferramentas técnicas são suficientes para estabelecer um nexo de causalidade". Muito poucos estudos são conduzidos com investigadores dos países em desenvolvimento não pertencentes ao Banco. O resto impressiona. Primeiro exemplo destas derivas: as reformas. Toda a argumentação liberal em favor dos fundos de pensão repousa num teorema desta espécie: "uma vez que em geral se espera uma taxa de rendimento financeiro superior à taxa de crescimento, as reformas pela Segurança Social têm necessidade de contribuições mais elevadas para assegurar o mesmo nível de reformas dos fundos de pensões". Conclusão: o sistema pela Segurança Social é menos eficaz. Mas este tipo de raciocínio repousa, segundo o avaliador que o cita, sobre um "erro grosseiro" que nem "um estudante do primeiro ano" cometeria: as reformas mais elevadas que os fundos de pensão poderiam almejar à partida seriam em seguida pagas pela "baixa das reformas daqueles que virão mais tarde". Segundo exemplo: os trabalhos de David Dollar. Este economista do Banco Mundial é o co-autor de um artigo famoso estabelecendo que o crescimento é bom para os pobres (Growth is good for the poor). O comentário é severo: "Uma boa parte desta linha de investigação sofre de deficiências são graves que os seus resultados estão muito longe de poderem ser considerados como fiáveis". Se esta tese foi avançada é porque ela ia no sentido das posições do Banco ao passo que outros trabalhos, como por exemplo aqueles de Branko Milanovic, outro investigador do Banco Mundial, eram "ignorados". Com certeza: eles mostravam que "é o crescimento que, em geral, conduz à abertura comercial, e não o inverso" e que esta abertura tem efeitos "particularmente desfavoráveis sobre os baixos e médios rendimentos nos países pobres". Trata-se de mecanismos de filtragem que são descascados por Robin Broad, uma economista que não fazia parte do painel [1] . Ela distingue seis mecanismos principais: recrutamento, desenvolvimento de carreira, selecção dos papéis, desencorajamento dos discursos discordantes, manipulação dos dados e escolha de comunicação para o exterior. Os investigadores que ela interrogou confessavam que não raro que lhes fosse pedido que fizessem uma avaliação "para provar que o programa X funciona". Esta abordagem lança as bases de uma verdadeira sociologia dos centros de investigação em economia que os estudaria enquanto aparelhos de produção, avaliando a força de ataque que representam os batalhões de investigadores pagos para ilustrar as benfeitorias do neoliberalismo. Estas críticas bem certeiras não impedem as instituições visadas de continuar imperturbavelmente o seu "trabalho". O primeiro relatório da OCDE consagrado à Índia deplora o rigor da legislação do trabalho e sugere "ajustar o nível de protecção do emprego para aumentar o emprego". Nos países da zona euro, a OCDE recomenda "suavizar a legislação relativa à protecção do emprego" e "aumentar a flexibilidade dos salários". E é sem surpresa que o FMI felicita a União Europeia pelas "reformas" dos mercados do trabalho: Dominique Strauss-Kahn terá muito a fazer para dar uma aparência "de esquerda" às suas próximas intervenções. A longa litania de relatórios estimulados pelo governo francês não escapa ao pouco mais ou menos e ao não importa o que; assim, a ideia da Comissão Attali, segundo a qual a liberalização da grande distribuição permitiria criar "várias centenas de milhares de empregos" tem a ver mais com o guichet do caixa do que com a análise económica. Não há dúvida que é a ideologia dominante que se fabrica nestas verdadeiras centrais de produção e não é inútil revelar o seu modo de produção.

por Michel Husson

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