Reflexões

"Instruí-vos, porque precisamos da vossa inteligência. Agitai-vos, porque precisamos do vosso entusiasmo.

Organizai-vos, porque carecemos de toda a vossa força".
(Palavra de ordem da revista L'Ordine Nuovo, que teve Gramsci entre seus fundadores)

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janeiro 05, 2012

A LUTA DE CLASSES "VOLTANDO" À CENA NOS EUA!‏

FSP, 25/12/2011
Para o ativista e professor da Universidade de Princeton Cornel West, a discussão sobre luta de classes ganhou força nos EUA. Ele aponta o movimento "Ocupe", que desde setembro protesta contra a desigualdade social e a influência das empresas na política americana, como marco da mudança. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - O conceito de classe social estava fora de moda. Com a piora na renda de europeus e americanos, essa ideia voltou a ficar em voga?
Cornel West - Classe sempre foi uma realidade central, mas nos EUA sempre houve maneiras de evitar a verdade. O sofrimento dos trabalhadores é frequentemente negado.
Graças ao "Ocupe", a classe se tornou um debate central. Fala-se da ganância corporativa, da pobreza, do papel do dinheiro na política...

Os políticos ficaram mais sensíveis a esses temas?
Certamente. Há um ano eles ainda fugiam disso. O "Ocupe" criou uma grande consciência democrática, inclusive entre políticos.

Como o senhor vê o debate público nos EUA? A crescente oposição entre democratas e republicanos tornou o diálogo mais difícil?
Nos EUA, temos dois partidos políticos ligados às oligarquias. Um é uma versão conservadora e outro é uma versão neoliberal.
Não temos um partido político que represente os pobres e os trabalhadores. O "Ocupe" representa uma parte contrária aos dois partidos.

Como o senhor compara o Tea Party e o "Ocupe Wall Street"?
O Tea Party quis influenciar os republicanos. O "Ocupe" é um rompimento mais radical. Na história dos EUA, tivemos duas revoluções. Uma contra a monarquia e outra contra a escravidão. O movimento pelos direitos civis foi uma tentativa de lidar com vestígios da escravidão, não uma revolução. A terceira revolução será a tentativa de transformar a oligarquia em um regime democrático.

Há republicanos que acusam o governo Obama de socialista. O que o senhor acha disso?
Ridículo. Dizer que Obama é socialista é tão verdade quanto dizer que é muçulmano.

Está satisfeito com Obama?
Não. Obama traiu seus apoiadores ao governar como Bill Clinton. Ele escolheu economistas arquitetos de políticas neoliberais, que permitiram a transferência da riqueza dos pobres para uma minoria.

Quais são as perspectivas para a eleição no ano que vem?
Obama certamente ganhará. Os republicanos têm candidatos com poucas chances. E quando ganhar temos de colocar mais pressão.

Ele conseguiria responder a essa pressão?
Depende da presença progressista no Congresso depois da próxima eleição. Mas acho que nos próximos anos a luta de classes nos EUA terá lugar na rua e na política.

E o como o senhor vê a igualdade racial hoje nos EUA?
Em relação aos negros pobres e trabalhadores há retrocesso e para os negros ricos há avanços. Há uma divisão de classe mais profunda. Os trabalhadores pobres negros têm níveis maiores de desemprego e subemprego.

A polícia de Nova York foi acusada de racista e o senhor participou há pouco tempo de um protesto no Harlem. O que tem acontecido?
Mais de 600 mil pessoas foram paradas [ano passado], só 3% foram presas e mais de 80% [delas] eram negras ou pardas.
Dados mostram Nova York mais hispânica. O preconceito também tem crescido?
Quando a economia tem problemas, o preconceito contra imigrantes piora.

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